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É o primeiro filme que vejo de James Gray. E vi-o por acaso num dos canais da Fox. Two Lovers traduzido para Duplo Amor.
Este é um filme que não consigo classificar, que escapa a qualquer classificação. É um encontro feliz entre um bom realizador e bons actores.
Aqui não é o argumento que sobressai, embora seja um bom argumento. Alguns dias na vida de pessoas simples. As suas alegrias e as suas tragédias. Aqui o que sobressai é a realização, que consegue criar uma atmosfera, a sua atmosfera.
Alguém transporta um saco de lavandaria, vemos esse saco baloiçar enquanto acompanhamos de muito perto esse alguém. A imagem distancia-se e vemo-lo de longe. Está parado num promontório de uma baía. Percebemos que se vai atirar antes de ver a sua queda na água. O filme começa assim, um mergulho no escuro.
Joaquin Phoenix é Leonard, veste-lhe a pele, vive o seu quotidiano. O amor dos pais já não é suficiente. Rejeitado há dois anos pela noiva, mantém a sua fotografia no quarto. O trabalho na lavandaria do pai também não o satisfaz. Mas gosta dos pais e não os quer magoar.
Leonard conhece Sandra no jantar familiar, na mesma noite da sua tentativa de suicídio. Mostra-lhe as suas fotografias - o seu sonho é ser fotógrafo - e aceita o convite da família Cohen para fotografar o Bar Mitzvah do filho mais novo. O namoro com Sandra irá desenvolver-se como um fio protector que o mantém a salvo até ao último momento.
Nas vidas simples de pessoas simples também existem dramas e tragédias. E encontros fatídicos. E a atracção pelo abismo. No caso de Leonard, o encontro com Michelle. Leonard passa a gravitar à sua volta. Ainda resiste a essa paixão mas, como dirá à mãe, quase num soluço: "Tenho de ir, mãe."
O cinema respira neste filme. Na aproximação e afastamento da câmara, no ritmo, na direcção de actores, na atmosfera que cria, e no seu minimalismo. Quase lembra Ingmar Bergman.
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